quarta-feira, 8 de janeiro de 2014


ARTIMANHAS DO ESCONDIMENTO


Galeria Amarelonegro 

Exposição individual
3 de Setembro a 11 de Outubro de 2013
curadoria: Caroline Menezes
Rio de Janeiro - Brasil











A transparência da pintura

«A arte de Rui Macedo contém uma clara prerrogativa: Ser imprevisível. Pode-se argumentar que toda linguagem artística, em sua essência, busca o deslumbre e a surpresa. Porém, o que faz a poética visual deste artista ser de tal maneira genuína é o inesperado que surge a partir da manipulação das regras, já tão conhecidas e arraigadas ao nosso entendimento da pintura e de suas convenções.
Operando com a materialidade da obra de arte, Rui Macedo aciona questões conceituais que abrangem todo o espaço expositivo. Todos os espaços mesmo, pois ao artista interessa ativar o que está sempre presente, mas que não é visto: Os cantos, os entres, os altos e baixos. Esta expansão abrupta, este preenchimento do que até então estava vazio, empurra o observador para um lugar incomum, exigindo deste uma nova postura diante da arte perante um deslocamento do seu habitual lugar privilegiado que continua, entretanto, distinto.
Para a exposição, ou melhor, instalação pictórica ‘Artimanhas do Escondimento’, Rui Macedo, o artífice, inscreve na posição iluminada da pintura o pensamento do pré-Renascentista Francesco Petrarca. Ao deparar-se com o sublime da paisagem do topo do Monte Ventoux, o escritor italiano registrou seu arrebatamento e refletiu sobre o quanto a visão para fora atinge a nossa percepção de dentro. Na montagem da galeria Amarelonegro a escalada do poeta é o movimento do observador. Tal qual a paisagem outros gêneros tradicionais da pintura, como o retrato e a natureza-morta, vêm à tona. A moldura que normalmente demarca o suporte é subvertida e, na obra de Rui Macedo, em vez de delimitar o plano pictórico representa a linha tênue entre o real e o imaginário. As suas pinturas são interrompidas, cortadas, dobradas e partidas para que sua percepção perpetue-se para além do olhar.
Em sua instalação o artista também interrompe o escrito de Petrarca com um elemento desestabilizador: A única tela que assume por inteiro seu papel clássico de pintura – aquela que revela a cena do interior de um museu ou galeria – está tombada, fazendo desabar do mesmo modo a previsibilidade do que se vê. A imagem aponta igualmente para o caráter metalinguístico presente na produção de Rui Macedo. Além desta, nenhuma outra tela adota a posição tradicional que a pintura sempre ostentou. Contudo, elas não se escondem. Pelo contrário, são transparentes e mostram mais do que suas tintas manifestam, incorporando para si o ambiente. Embora baste apenas uma dúvida para que toda a engrenagem da instalação passe a funcionar, o pintor afirma seu compromisso com a realidade, apresentando um repertório de imagens na escala verdadeira. A exatidão do que representa favorece a artimanha que faz confundir; trai e atrai ao mesmo tempo, engana com as características do real.
Rui Macedo expõe que o contexto é tão fundamental para a experiência estética quanto o próprio objeto artístico. Essa ação o faz articulador de uma das principais características da arte na contemporaneidade. Para evitar o adjetivo ‘contemporâneo’ que, para o artista é incipiente por não determinar nada além de ‘que se pertence ao mesmo tempo’, poderíamos dizer que desde a revolução de Duchamp, a conjuntura em que a arte está inserida determina o sentido que esta assume. A produção de Rui Macedo tem essa potência, já que não há moldura capaz de separar o contexto, o ambiente, o lugar do significado da obra.»

Texto curatorial de Caroline Menezes












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